terça-feira, 25 de novembro de 2008

Drogas, auto-afirmação e o medo de ser mais um.

Em um determinado período da história recente da sociedade ocidental, as drogas desempenharam um importante papel por estarem ligadas a idéia de rebeldia e contestação aos valores da sociedade. Canalizavam um desejo de liberdade, a vontade de experimentar, expandir fronteiras e confrontar o poder. Era uma atitude que carregava em si um ato ideológico.
Pode parecer inocência minha, que não vivi esse periodo, colocá-lo como algo tão nobre, mas eu assumo o risco.
Hoje em dia, drogar-se não possui nada de inovador ou desafiador das estruturas. É muito mais corriqueiro do que se pensa.
As drogas, e principalmente o seu consumo abusivo, atualmente, são apenas uma forma de auto-afirmação, maneira de destacar-se entre os demais. Representam, assim como tantas outras coisas, a futilidade e a imbecilização de certos segmentos da juventude que vêm nelas um distintivo social dentro do grupo.
Não se assustem, não é o texto de nenhum puritano em sua cruzada contra as drogas. Não é um texto religioso tentando provar que o demônio se esconde em cada baseado (será por isso que os crentes chamam o baseado de “cigarrinho do capeta”?). Como também não é o texto de nenhum punk straight-edge revoltado contra a indústria capitalista do cigarro e da bebida enfiado dentro de seu blusão Adidas (rimou haha). Não faço parte de nenhuma entidade contra as drogas. Nas palavras de Grouxo Marx: “não entro em clubes que me aceitam como sócio”. Logo, não é o texto de nenhum santo. Não preciso dizer mais nada sobre isso... entrelinhas.
Venho remoendo esse assunto a algum tempo, depois que uma pessoa me contou que em seu trabalho ouviu um cara contando a maior vantagem sobre as suas viagens com exctasy em uma rave, e descrevia a forma como ele suava frio e passava mal para seus amigos. Enquanto ouvia isso, pensava muitas coisas. A primeira logo de cara foi: “que imbecil!”. A segunda foi: “esse cara dever ter grana, exctasy é uma droga das elites”.
Em seguida, vieram as “filosofagens” menos óbvias.
Essa história me levou a pensar que o uso das drogas em alguns segmentos parece carregar uma idéia de notoriedade através do desafio de seus próprios limites exibido aos outros, fazendo com que o sujeito se torne diferenciado entre seus pares. O mais “louco”, o que “agüenta mais”, ou seja, o mais forte. Parece uma coisa meio primitiva, né? Podem ver que todo cara que usa qualquer droga em pouca quantidade é logo colocado como “fraco”. A distinção também se dá também pelo próprio fetiche da proibição. Aquilo que é condenado parece ser mais atraente para alguns. Como assim?
Que o usuário no Brasil precisa se esconder é fato! Mas tem alguns que teatralizam tanto a sua opção que o que menos fazem é se esconder. Dão mais na vista do que qualquer outra coisa.É uma espécie de atração pelo status de quem é perseguido pelo estado e seus “aparelhos”, um fetiche pela obscuridade, pela crucificação, por ser considerado fora da lei, ter que se esconder em lugares inóspitos para usar, pular muros, entrar em becos escuros, acender vários palitos de incenso ou fazer café bem forte na expectativa de que alguém possa descobrir. Fora que, entre algumas pessoas a teatralização dessa opção é muito bem vista. Coisa das sociedades (pós–) modernas, em que tudo é superestimado. Em que coisas pequenas adquirem dimensões maiores do que realmente possuem.
Qual a vantagem disso? Boas histórias para contar aos amigos, adquirir capital social, ou seja, investimento em sua própria imagem dentro de seu grupo, dentro de uma juventude que valoriza mais o cara que tem nas drogas e em seus excessos a única forma de se destacar, do que alguém que não precisa escrever isso na testa pra ser notado em algum lugar. Porque, quando se é jovem, ser clandestino é “very cool baby”. Se alguns desses soubessem das surras que se ganha da policia em certos lugares distantes das zonas nobres por portar um baseado... ninguém sustentaria tal posição.
Sei que, atualmente, enquanto vários jovens em situação de risco ou em confronto com a lei, seguindo a rotulagem correta, usam cola de sapateiro e fumam crack, seja para aplacar a fome ou pelo próprio aprendizado da rua, outro segmento de jovens, usa drogas como distintivo social, forma de se destacar, porque o anonimato deve ser terrível. Ser apenas mais um no show de rock, mais uma na balada da rave, mais um na cidade, mais um na turma, mais um no Orkut de outro desconhecido qualquer, mais um em qualquer lugar.

6 comentários:

Unknown disse...

mais um petardo disparado com estilo!

Unknown disse...

A autoafirmação em usar drogas remete ao ledo engano de que são as pessoas mais 'originais', ou seja, só eles usam drogas e são modernos por causa disso. É algo realmente primitivo mostrar q é o mais forte, o mais original, ou aguento mais heroína que vc.

Kleber Resende disse...

Lampião era brabo e perdeu a cabeça... eu sou fraco mesmo, mas tô vivo =D

Anônimo disse...

O Slash (ex-guns) uma vez afirmou em entrevista à revista Rock Brigade: "Ou vc passa por das drogas ou elas passam por cima de vc". Referia ele ao uso de todo tipo: do álcóol à heroína.
Ele é/era usário de primeira linha, mas tinha ao menos a consciência que muitos não tem.

elaine disse...

Não é que exista algo que justifique o uso, ou se
"é para fracos" ou "fortes"...
Muitas pessoas sofrem tanto que preferem fugir da vida, dos problemas, ou até mesmo chegam ao ponto de não se importarem mais com suas próprias vidas ...existe tb esse lado negro.

Anônimo disse...

É fato que hoje em dia as pessoas mais consomem drogas pra dizer que consomem, do que pra sentir a "brisa" propriamente. Mas o fato é que de mil pessoas que leiam esse seu texto, 999 vão comentar, mas não sabem do que se trata. É tanta alienação nesse país (no mundo), que a vaidade e a futilidade ja são apenas o que se tem no entretenimento e nos assuntos. Tenta trocar ideia com alguem que lhe dá a devida atenção... muitas vezes nem seus pais! www.myspace.com/prestensom ... ideia certa a quem tem!