sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Guerra De Facão - Falcão e Zé Ramalho (Composição: Wilson Aragão)

Confesso: sou fã!




A dor do cocho é não ter ração pro gado
A dor do gado é não achar capim no pasto
A dor do pasto é não ver chuva a tanto tempo
A dor do tempo é correr junto da morte
A dor da morte é não acabar com os nordestinos
A dor dos nordestinos é ter as penas exageradas
E a viola por desculpa pra quem lhe pisou no lombo
e lhe lascou no cucurute vinte quilos de lajedo.
Em vez de achatar pra caixa-prego o vagabundo,
que se deitou no trono e acordou num pau-de-sebo.
Eh eh eh boi, eh boiada, eh eh boi
A dor do jegue, tadin, nasceu sem chifre
A dor do chifre é não nascer em certa gente
A dor de gente é confiar demais nos outros
A dor dos outros é que nem todo mundo é besta
A dor da besta é não parir pra ter seu filho
A dor pior de um filho é chorar e mãe não ver.
Tá chegando o fim das épocas, vai pegar fogo no mundo,
e o pior, que os vagabundos toca música estrangeira
em vez de aproveitar o que é da gente do Nordeste.
Vou chamar de mentiroso quem dizer que é cabra da peste.

A dor do sol é que ele não conhece a noite
A dor da noite é que não tem mais seresteiro
A dor do seresteiro é o medo da polícia
A dor da polícia é ter ladrão no mundo inteiro
A dor do mundo inteiro é que tá chegando gringo
A dor pior de um gringo é outro gringo do outro lado
Não sei se tô errado mas arrisco meu palpite
de acabar com as bombas "atromba", encoivarar os rifles,
tocar fogo em toda tenda que é de fabricar canhão.
Morre muito menas gente se a guerra for de facão...

sábado, 5 de setembro de 2009

Religiões e universitários


Fonte: http://perrusis.zip.net/images/Ateu.jpg

Até os treze anos eu rezava diariamente. Não sei o que aconteceu, mais isso perdeu toda a força em mim.Mentira. Eu sei o que aconteceu e é isso que eu vou falar nesse texto. Antes de ter contato com qualquer ciência, o pensamento sobre religião, Deus e a divina providência já haviam deixado de fazer qualquer sentido. Já dormia sem rezar e não tinha o mínimo remorso. Dormia como uma pedra. Hoje em dia, Deus (em seus vários nome) e a religião ( em suas várias formas) saíram totalmente do meu foco de interesses. Durante o período da universidade eu tinha uma posição que eu considerava mais retórica do que necessariamente um posicionamento. Eu me acreditava agnóstico, ou seja, (tentando fazer uma generalização didática aqui) defendia o pressuposto de que a discussão sobre a existência se fundamentava em dois lugares opostos que partiam da mesma natureza. Quem acredita não tem evidências e quem não acredita também não. Assim, a discussão é fundamentada em dois opostos. É como discutir Vasco e Flamengo pra saber quem é o melhor mesmo sabendo que um vascaíno não vai dizer que o Flamengo é bom e que um vascaíno também não faria algo do tipo. Ando pensando nisso a um bom tempo e principalmente porque eu venho descobrindo que o pensamento metafísico é mais forte do que se imagina na Universidade. Lembro dos primeiros períodos em que um amigo meu ao abrir um e-mail viu um convite para participar de um grupo de psicólogos cristãos. Isso mesmo! Psicólogos cristãos. Na minha tradução aquilo era igual a grupo de auto-ajuda. Abro um parêntese aqui, pois pra mim, da mesma forma que auto ajuda não é psicologia, Paulo Coelho não é Filosofia. Pronto! Protesto feito! Desculpe quem gosta, mas aquilo é um lixo. Lembro de sempre passar nos corredores e ver o pessoal da Aliança Bíblica Universitária da UFS cantando seus hinos de louvor e achava aquilo uma idiotice. Hoje em dia não acho mais, creio que um dos grandes sucessos que a História e as ciências humanas em geral conseguiram colocar em mim foi aprender a lidar com a diferença. Além do mais, eles pelo menos são fiéis a princípios que não são modismos. Pior são os universitários que do dia pra noite aderem a novas religiões, seitas místicas e coisas do tipo e que são os mesmos que vão criticar o catolicismo. Minha turma do curso de História estava repleta de evangélicos e católicos. Ao contrário do que se pensa, os ateus e afins eram minoria e ninguém mudou de crença por causa da História. Muitas vezes recebiam com maus olhos qualquer proposta que questionasse o Cristianismo. Acho que quem diz que História é coisa de ateu se baseou em um conhecimento muito restrito do que é realmente a História como oficio e a História ensinada. Já vi muito na Universidade, cadernos com capas de Nossa Senhora, Smilingüido (aquela formiga de luvas que tem nos produtos católicos) e coisas do tipo. Com o tempo isso se mistura em nossa vida e a gente vai percebendo que isso é normal. Assim, a academia e toda a sua carga científica, pelo menos nas Ciências Humanas, não tem essa força que se imagina. A ciência não tem esse poder de convencimento a ponto de fazer as pessoas repensarem crenças que foram resultado de anos de socialização de pais, professores etc. Mas ai eu acreditava que existia certo ponto onde isso cessava em quem ia além nos estudos de qualquer ciência ou pelo menos diminuía drasticamente. Engano meu. Recebo com muita freqüência dos colegas da pós-graduação, até mais do que gostaria, Power points com mensagens de fé, esperança, Cristo e Deus pra cá e pra lá, que tem alguém olhando por mim, e o dom vida e perêrê e parará. Isso reúne duas coisas que eu não suporto: Power points e mensagens religiosas. Conjugados, pior ainda. Sinceramente, acho um certo desrespeito, claro que não intencional, você partir do princípio de que todos têm uma crença no Deus e ainda mais no Deus ocidental ao enviar essas mensagens. Eu nunca enviei nenhuma mensagem dizendo: Vejam que belas palavras sobre o ateísmo e a descrença na religião. Parece que existe um consenso de que todos nós partimos de alguma crença religiosa e que, coincidentemente, ela se aproxima do cristianismo. E se eu mandasse uma mensagem budista? Ou com dizeres do Alcorão? Ou com cânticos da Umbanda e do Candomblé? Seria recebido da mesma forma? Só sei que essas coisas me fizeram repensar as minhas posições. Há muito tempo eu não pensava nisso e decidi que... vou fundar uma Igreja universitária!!! Ela reunirá todas as tendências. Será A IEUB (Igreja eclética universitária do Brasil). Será em um terreiro, com rodas de violão, charutos, hóstias e cristais e nosso Deus será um extraterrestre marxista que descerá da via láctea vestido de pai de santo e com uma bíblia na mão gritando como pastor trechos de filme de Almodóvar e com uma bandeira GLBTT na testa. Coisa de Pimba do mais alto nível. Todas as tendências. Hahahahahahaha. Gente...brincadeira. Não se trata disso, apesar de não parecer má idéia. Ciência não dá dinheiro mesmo em curto prazo. Na verdade, o que eu quero dizer vai parecer meio óbvio pra quem me conhece, mas eu percebi que definitivamente não acredito em Deus. Na verdade, não é uma questão de crer. Na verdade, nunca senti falta de Deus na minha vida. O pior é que a gente sempre ouve, principalmente das pessoas mais velhas que já pecaram muito e agora querem curtir o céu, que todo mundo precisa ter uma religião porque é preciso acreditar em algo. Mas e quem disse que eu não acredito em algo? Acredito na justiça social porvir, acredito no desenvolvimento da ciência, acredito que as coisas simples às vezes são as essenciais. Só não acredito em Deus. Nunca senti dessa “dor de barriga espiritual” de que as pessoas falam. O pior é que às vezes ouço de pessoas dizendo que “certas pessoas nunca conquistam nada, porque não tem crença em coisa alguma”. Nunca fiz qualquer barganha metafísica pedindo a Deus coisa alguma. E nunca o culpei pelo que não consegui. Melhor ainda, nunca fiquei em cima do muro dizendo, “não vou a Igreja, mas acredito em Deus” ou então “tenho um lado espiritual independente de religião”. 1. Não vou a igreja, a terreiro, a sessão de mesa branca se não tiver uma finalidade didática. Pensei em levar meus alunos para conhecerem um terreiro. Um professor logo me advertiu: “já tentei, mas as mães quando sabem da nossa intenção dizem que aquilo não é religião de gente”. Bom, a Cultura Afro está lá para ser dada e temos que responder a demanda curriculares e as demandas da comunidade. 2. Nem lado espiritual tenho. Não adianta vir com budismo, Umbanda, Espiritismo, Candomblé, Seicho No-Ie e qualquer culto que mexa com coisas sobre luz interior, luz da vida, paz interior, equilíbrio, essência, cristais, chácras, incensos, elefantes de vários braços e etc. E nem aquela religião que deixou Tim Maia mais maluco do que ele já era: A Cultura Racional e aquele papo de outras civilizações pára além da terra. Nada disso, pra mim estamos girando sozinhos no espaço, pra mim a vida é matéria, sem sentido determinado, uma luta constante, cheia de possibilidades e por ai vai! E isso foi fazendo sentido aos poucos. Sem forçar a barra, sem transitar em várias religiões pra tentar se encontrar ou para fazer parte de modismo universitários com as religiões “oprimidas”, sem comer hóstia, pagar dízimo ou incorporar entidade. A identidade muitas vezes se constrói por oposição ao outro e não sei se estou fazendo exatamente a mesma coisa optando por um lado definido. Eu ouço muito na universidade a “critica ao terror da Razão” e que a racionalidade pode estar a serviço da opressão e tudo mais. Mas acho que prefiro o discurso da racionalidade cheia de buracos ao discurso da fé. Pelo menos o discurso da racionalidade, por mais datado que seja, é o mais propenso a discussão e menos sujeito aos anacronismos, ou seja, querer sustentar valores que não cabem mais em uma sociedade moderna. Quando penso na bancada religiosa que barra os projetos sobre pesquisa sobre células tronco e sobre aborto percebo que fiz uma boa escolha. Concluo dizendo que, se Deus está em qualquer lugar, logo, ele está nesse blog. Quem sabe não é ele que está escrevendo para testar a fé de vocês. Quem sabe eu, Kleber Luiz, seja Deus e vocês nunca perceberam.


P.S: Deus com letra maiúscula é apenas questão de respeito às regras gramaticais.