domingo, 28 de fevereiro de 2010

Pagando pelo desconforto.

Quanto vale um carnaval? Eu faço essa pergunta um pouco tarde,o carnaval já passou e dizem os mais cínicos ou os mais propensos a seguir o senso comum que o ano começou agora, depois do carnaval. Faço essa pergunta pois na minha pobre cabeça de pão-duro é surreal gastar um mês de trabalho em 4/5 dias. Claro que quem pode paga. Não vou entrar aqui na discussão sobre oferta e procura de bens culturais. Só não consigo entender como as pessoas movem montanhas, são capazes de um esforço sobrenatural pelo carnaval. Empregam energias que não oferecem muitas vezes a qualquer outro empreendimento. Já digo logo que sou suspeito, nunca fui pra Neópolis e nem pra Olinda. Nunca desci ladeira com o Zé Pereira e nem vi o Galo da Madrugada. A minha questão é de ordem mais prática. Eu vejo pessoas pagarem o olho da cara pra alugarem casas em péssimo estado de conservação, com deficiência de água e energia, cheia de desconhecidos, de quem não se sabe as intenções e nem a procedência, sendo acordado com o barulho dos habitantes da casa que escovam os dentes com cerveja e acreditam que você vai achar super divertido ser acordado por uma trupe de bêbados e pelo barulho do que há de mais moderno em matéria de pagode baiano, arrocha, pisadinha e axé tocado no volume 10 da mala de algum idiota que obriga todo mundo a atestar a potência do seu som. Dane-se o Zé Pereira! O que importa é chamar a atenção, mesmo que isso custe a diversão dos outros. O pior é que não é um som, é som grave, mal definido, batendo dentro do seu coração como um soco.Além disso, ser exposto a todo tipo de substância que a ma-fé de quem não sabe se divertir pode proporcionar: de cal a cuscuz lançados na sua cara. Tudo isso que digo aqui eu não vivi, até porque isso para mim passa longe de ser carnaval, é selvageria mesmo. Mas já ouvi muuuuuiiitas histórias de quem já foi, pagou caro pelo carnaval e voltou sem sequer ter “pegado” alguém. Chegou na cidade, se alojou com desconhecidos, comeu mal, bebeu muito, tomou banho de cuia no quintal com porcos e galinhas, dormiu no chão, acordou com barulho, perdeu objetos no meio da farinha de trigo lançada como argamassa para os excrementos alheios e teve que aturar 4/5 noites de bêbados e nativos intrometidos. E o mais engraçado: vai de novo! Nunca consegui entender, e mesmo que já tenha tido vontade de conhecer o carnaval de Neópolis, como é possível pagar caro por tanto desconforto? Eu sou daqueles antiquados que quando a festa não é favorável, fico sem a festa. Nada de pagar 6 meses por um bloco, por uma casa em algum lugar, por um estadia em Recife. Acho que minha constante necessidade de poupar dinheiro me tornou um pão-duro hiper racional. No caso de Olinda eu mantenho o desejo acesso, porque é uma cidade que tem um patrimônio histórico que vale a pena ser visto. Por que se eu for pra Olinda só pra ver um bloco gigante de carnaval tocando as mesmas músicas que eu ouço desde o final de janeiro não vale o custo.