domingo, 27 de junho de 2010

O fim dos rebeldes é a ode a família feliz? (manifesto careta)

Bom, não existe sabedoria no tempo por si só, nós que atribuímos valor a mudança, e acompanhar a duração de certos processos é sempre muito gostoso. Muita gente que eu conheço que alimentou grandes sonhos de comunhão socialista, discursos contra hegemônicos, que sempre alardeou sobre os grandes planos que a vida reservava, a liberdade, a aventura de “se entregar ao mundo”, sempre contra a “nossa” caretice, agora estão inseridos dentro daquilo que “nós”, mortais, sempre fomos acusados de fazer parte: os valores familiares.

O engraçado é que muitos de “nós”, reacionários, estão seguindo a vida de forma paralela a esses esquemas. Pensando em carreira, ser visto e reconhecido, em conhecer o mundo, começar uma vida nova, etc. Para “nós”, caretas, filhos e família são agora um acidente de percurso, visto a quantidade de coisas que pretendemos fazer. Muitas das pessoas que esfregaram suas bandeiras em nossa cara estão levando uma vida de emprego-filho-esposa/marido–família-casinha, com dilemas que passam longe das discussões como: “O fracasso do socialismo é o fim da história?” ou “Luta armada ou revolução pelas idéias?”.

Nada contra formar uma família, até porque, segundo alguns, eu sou conservador e às vezes moralista, logo, devo gostar de família, né? É lógico que não. Quem me conhece sabe o que eu acho de família e parentes. O meu estranhamento é que tudo o que se disse foi apagado. Eu, pelo menos, nunca saí dizendo “dessa água não beberei” Prefiro assim. Mostra que não sou fiel a idéias muito fixas, essas patologias juvenis que avançam na idade adulta e tornam algumas pessoas intragáveis.

Tudo isso que estou dizendo está baseado na observação da nossa “janela indiscreta” contemporânea: o Orkut. Abrindo as atualizações, sempre percebo que o Orkut está se tornando um ambiente familiar, cheio de linhagens recém-formadas, muitas sob circunstâncias ocasionais, repentinas, torrenciais... Os libertários, os adeptos do amor livre, os devassos e libertinas (por convicção ou por desespero), os leitores de Sartre, os maníacos sexuais, as ninfomaníacas, os hedonistas, os mal resolvidos sexualmente, estão todos se tornando pais/mães de família, enquanto nós, os supostos normais, os caretas, os tradicionais, conservadores, moralistas, estão sonhando alto, pensando em família como uma vontade e não como resultado de uma camisinha estourada, da trepada de uma noite etílica, da necessidade de arranjar alguém pelo medo da solidão, de não se sentir capaz de ir além, por preguiça de persistir nas noites intranquilas de solidão em frente ao computador, escrevendo trabalhos e textos, sensação que a estabilidade familiar supõe apagar.

Termino esse texto dizendo: meus parabéns a todos os caretas da nossa laia! Espero que nos encontremos uma dia do alto de nossa caretice, de nossas carreiras que foram vistas como chatas e convencionais, dos livros lidos, dos lugares vistos, dos debates, vivências e lugares diferentes, vendo os que ficaram para trás e pensando "e nós é que erámos os tradicionais?".

Ao caminho que parece certo, ao destino que ninguém pode escapar, a idéia de familía como maldição, como certeza última de todos os homens e mulheres, nossa renúncia megalomaniaca dará uma resposta convincente. Principalmente aos que acreditam que a vida está resumida em crescer, reproduzir e morrer...de tédio.