terça-feira, 11 de maio de 2010

Um frankstein televisivo (parte 1)



O que aconteceria se misturássemos o Domingo legal e suas mulheres em trajes de banho; CQC e seus apresentadores que misturam jornalismo de, algumas vezes, duvidosa utilidade públicae humor (apesar de ser um bom programa); Porta da esperança e sua distribuição paternalista de sonhos aos pobres e Pânico na Tv e seu...sei lá...aquilo que eles fazem lá? Resposta: eu não sei. Provavelmente uma tragédia.

Não sei se o programa “Os Legendários”, exibido na rede Record, seria exatamente uma tragédia. Existem coisas piores: Carla Perez cantando músicas infantis, Netinho apresentando um programa, Bárbara Paz como atriz e sex symbol, Zorra Total.A lista é grande.

Não prego pelo purismo televisivo, pela idéia nata, original, genial, inédita. Até porque da mistura podem sair bons frutos. Mas posso dizer, aproveitando a deixa dos “frutos”, que a proposta lançada por Marcos Mignom e seus ex-companheiros de MTV e atuais de Record, tem sido até o momento um abacaxi televisivo. Uma mistura patética de falso engajamento, que já era perceptível em outros da mesma linha, com programa de auditório de quinta categoria, bem no estilo Gugu, Silvio Santos e Caldeirão do Hulk.

Legendários não têm nada de revolucionário como seu idealizador anunciou (depois ele voltou atrás, dizendo que é apenas entretenimento...depois falamos nisso). É um grande pastiche, uma imitação de tudo o que já vimos na televisão aberta. Um Frankstein televisivo, sem personalidade, que alimenta a vaidade colossal de seu apresentador, que não consegue parar de fazer posses, como se a câmera fosse o espelho de sua casa.

Tudo começou quando estourou a noticia de que João Gordo (Ratos de Porão) havia assinado com a Record? “A contratação mais improvável da televisão brasileira”. Acho difícil. É mais improvável João Gordo não querer ganhar dinheiro. Achei estranho, mas na época não prestei atenção. Nada contra, todo mundo tem que fazer o que gosta.

Quando o programa foi ao ar, vi um João Gordo domesticado, sem palavrões, sem os chingamentos, sem tudo aquilo que fazia dele um apresentador “peculiar”, por não poupar ninguém de perguntas e assuntos incômodos. Suas matérias? São regulares. Comprovam apenas que essa coisa de diploma nunca impediu o charlatanismo ou o falso pensamento de que jornalismo é apenas uma câmera na mão e uma idéia (pauta) na cabeça para expor o “sistema”. As matérias são tudo aquilo que o jornalismo “marrom” da globo e de outras emissoras já fizeram melhor e a partir de menos informações do que as que se dispõe hoje.

Assistindo, também vi uma entrevistadora que é uma mistura de Chiquinha com um emo, gritando a todo instante, em quadro que expõe profissionais a uma enxurrada de desinformação em nome do humor. De Ronaldo (jogador entrevistado semana passada) não espero nada (nem mesmo futebol), mas de uma ginecologista, em um país cheio de mães adolescentes, uma audiência nacional de jovens e com transmissão para outros tantos países, o que ela faz? Mostra um festival de “whatever” (nome do quadro), de perguntas esdrúxulas, sem sentido, que se pretendiam causar algum impacto, o fazem apenas pela sensação de “ou eu estou ficando velho ou eu não sei mais o que é engraçado”. Eu voto na primeira. Entrevistas que são no mínimo desconcertantes, decepcionantes, para uma moça (Mia Mello) que já ganhou um prêmio de humorista revelação. Se ganhou, foi no grito, que é só o que ela faz no quadro.

Outro quadro é o dos caras do Hermes e Renato que, agora não são mais Hermes e Renato, e estão à procura de um nome mais adequado. A gama de opções é vasta e eles não chegaram a um consenso, pois, de “filhos do Edir” até “mercenários” a gama de opções é vasta e nem sempre muito fácil de digerir. Do que era do Hermes e Renato, sobraram alguns caras falando e fazendo força pra aparecer o tempo todo em uma mesa na lateral do programa, cheios de esparadrapos, fazendo comentários o tempo todo, e não perdendo um lance de câmera para fazer qualquer bico para audiência. Mas, um quadro deles realmente é muito bom: o “repórter boato”,aquele foi bem pensado.Me lembrou as tirações de sarro do CQC sobre o jornalismo, mas tudo bem. Nada que um lixeiro, do alto de sua vassoura não supere.

Junto deles entrou, não me perguntem como, Gui de Pádua, que já fez quadros em programas da Globo e agora ganhou espaço no Legendários fazendo aventuras ariscadas como saltar de pára-quedas do congresso ou de grandes torres pelo mundo. No episódio do congresso, de início, fiquei impressionado, por que eles haviam se infiltrado lá dentro para fazer o salto. Achei incrível. Logo em seguida, Marcos Mignom agradece a colaboração do Congresso em permitir as filmagens... tudo show...permitido pelas nossas excelências de Brasília. Uma subversão dramatizada, controlada. O que é um contra senso, se pensarmos que um dos significado da palavra, de acordo com o dicionário Houaiss, é: revolta, insubordinação contra a autoridade, as instituições, as leis, as regras aceitas pela maioria. Tudo bem...é apenas entretenimento.

Fora isso, tem Jac Kury, a ex BBB, que,até um dia desses eu não lembrava que havia existido no planeta terra. Ela, em seu maio apertado, que esparrama pelos cantos os seus litros de silicone, chama mais atenção pelo decote e pelas roupas do que pelo que apresenta como matérias. Na mesa lateral ela muito mais um enfeite do que uma apresentadora.

Temos também o Supertição, um herói negro, metido em um collant amarelo, cuja voz lembra a do Netinho do Negritude Jr. Um nome de herói no mínimo preconceituoso, se pensarmos que existe gente sendo processada por ter dito muito menos (mas não justificável, é claro) a algum afro-descendente. Sua tarefa: realizar o sonho de quem quer comprar desde uma máquina de sorvete até abrir um negócio em casa ou mesmo colocar o Neimar na seleção. O que já deu um problema sério, pois, acamparem na frente da casa de Dunga em um sábado a noite não foi considerado engraçado pelo técnico da seleção. O que gerou um puxão de orelha nos bastidores. O quadro é uma referência direta aos programas, cuja SBT é mestre, de distribuição de prêmios com uma história triste de fundo e um apresentador defensor dos injustiçados. Obviamente, nem Silvio santos e nem Luciano Hulk andam de collant. Pode ser que seja uma alegoria desses programas, mas se era pra ser uma crítica, não funcionou.

Parece que o Brasil encontrou uma segunda fórmula de humor para explorar. Um descanso dos programas pastelão da rede Globo, cujo humor, vive dos tempos áureos de Chico Anísio e dos Trapalhões. Essa nova vertente, cheia de intervenções gráficas, humor “político” e provocativo, que não poupa celebridades, de inicio pareceu que vinha pra ficar. Mas, a fórmula tem mostrado sinal de cansaço. CQC já não rende tão bons momentos. O Pânico na TV já esgotou o pouco de inteligência que tinha. Muitos desses comediantes são oriundos do “stand up” (aquele em que é apenas um cara e o microfone) e são muito bons. Mas parece que agora o humor brasileiro está sendo acometido por um esgotamento dessa proposta. Quem percebeu isso est´[a ganhando o seu troco por fora, divulgando o próprio nome. Até mesmo os pioneiros estão demonstrando não saber mais se reinventar.



Essa merda, continua...